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Joana Marcelino

A cozinha do chef aos olhos da arquiteta e decoradora 

Atualmente, a cozinha é uma das divisões da casa mais valorizadas? 
Penso que ainda não, pelo menos do ponto de vista da antropologia e psicologia ambiental. Mas a cozinha é uma das divisões mais usadas da casa, em horas bastante específicas e importantes do dia, no âmbito da dinâmica familiar para muitos dos agregados. É o local onde preparámos e tomámos as refeições mais importantes e onde a luz e o conforto determinam e influenciam os restantes espaços, se estivermos a falar de uma casa. 
No caso de uma empresa, será um espaço em que se fazem as pausas durante o dia, em que certamente se pode conversar e permanecer para almoçar. É um local onde as questões técnicas, à partida, não são tão exigentes. Neste caso, o espaço deverá ser calmo, não interferindo com a restante área da empresa, quer do ponto de vista do ruído ou dos cheiros, e deve estar bem iluminado com luz natural, assim como equipado e, de preferência, com espaço interior e exterior acompanhado de uma vista infindável sobre um jardim, uma floresta, ou o meio onde se insira. 
Já em restauração, deve estabelecer-se uma relação visual com os clientes, para que funcione de forma empática e verdadeira e se estabeleça uma relação de confiança e fidelização.

É especialmente difícil projetar um desenho para um espaço como este? 
As premissas são as mesmas para o desenho de qualquer outro espaço: funcionalidade, pragmatismo, agilização de funções, cores, conforto, controlo de luz natural e artificial e relação com o exterior, para que o propósito seja o mais fácil e confortável possível.

"Gosto (...) de cozinhas em contacto direto com o exterior”

Que decoração escolher, para a cozinha de um chef
Acima de tudo, a que reflita assertivamente a identidade do chef. Existem cozinhas mais minimalistas, porque o prato que se confeciona e se apresenta assim o é. Como também temos outras que vão exigir um ambiente mais natural, ou seja, ligado à terra, ao meio onde se inserem e ao processo de confeção. 
Recentemente estive na cozinha do chef Cesar, no restaurante FOCO, onde o fogo é o instrumento secreto para uma confeção e degustação focada no sabor final e na autenticidade dos produtos. Diria que, nesta cozinha, o chef recriou dois mundos – o minimalista com o artesanal – e juntou-os num só, resultando num ambiente informal e descontraído, que proporciona experiências inesquecíveis.

Quais são as tendências mais recentes, ao nível de cores e materiais, para a cozinha? 
Dependerá muito da identidade da pessoa, do espaço e da casa. Gosto especialmente de cozinhas em contacto direto e generoso com o exterior, que permitam a construção de uma horta, promovendo uma relação direta entre a terra, a confeção e a alimentação. Uma cozinha virada para nascente, de forma a termos contacto direto com os primeiros raios de sol, assim como revestida de tons claros ou de materiais naturais, como é o caso da madeira ou a pedra, de fácil utilização e manutenção. Com o mínimo de materiais colocados, uma boa iluminação artificial e muitas plantas, tornar-se-á, com certeza, um espaço reconfortante, saudável e confortável. Este tipo de cozinha coloca a zona de jantar em segundo plano, uma vez que os princípios do desenho promovem a socialização e o envolvimento nas tarefas que lhe são inerentes. Atualmente, existem eletrodomésticos que permitem colocar a cozinha em qualquer ponto da casa, sem recurso a sistemas de exaustão ou confeção visíveis. Estas facilidades permitem desenhar um espaço sem grande ruído visual ou, então, sem superfícies frias e pouco amigáveis. 

"Existem eletrodomésticos que permitem colocar a cozinha em qualquer ponto da casa”

O que não poderá́ faltar para uma cozinha funcional e esteticamente bonita? 
Arrumação e organização, definitivamente. O que torna uma cozinha esteticamente bonita é a ausência de visualização, sobretudo, dos eletrodomésticos ou da boa inserção deles, por forma a tornarem-se integrantes do espaço e não dominantes do mesmo. O referido parte do método de encastre ou do cuidado com as cores e os materiais escolhidos. Uma boa iluminação de trabalho, acompanhada de uma boa iluminação decorativa, alguns elementos naturais, como plantas aromáticas e utilização de estofo, e cortinas no prolongamento dos espaços de estar resultam muito bem. Para o sucesso desta concretização, todas as especificidades técnicas devem estar bem resolvidas. Aliás, devem ser pensadas aquando da fase do estudo prévio do projeto de arquitetura ou do projeto de remodelação do espaço.

Enquanto arquiteta e decoradora, quão desafiante é para si idealizar um espaço como a cozinha?
É desafiante, no sentido em que posso promover as relações humanas, interferir na dinâmica familiar e na qualidade de vida de cada indivíduo e construir uma relação espacial e harmoniosa em todo o circuito interior e exterior.
Joana Rebelo
T. Joana Rebelo
F. Direitos Reservados

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