Sempre sonhou com arquitetura?
Sempre. Desde muito jovem. O meu pai era desenhador de construção civil (nome do antigo curso). Sempre vivi no meio dos projetos e, apesar de ter havido um tempo em que me afastei um pouco, até mesmo da escola, o meu primeiro projeto foi aos 13 anos. Estive um tempo envolvido na dança, mas depois houve um dia em que tive de abandonar completamente a parte da dança e seguir arquitetura. Já não dava para criar as duas coisas.
Que tipo de dança?
Era o hip hop e a aeróbica. Tudo tinha que ver com o criar as coreografias, e isso é como na arquitetura, é espontâneo. Nunca montava coreografias, era o que saía na hora. Rapidamente, vi-me a dar aulas e a fazer espetáculos, a montar coreografias para grupos, até à criação do Dance 4 Kids (que é conhecido no Porto). Durante um tempo, conciliei as duas coisas, mas depois tive de optar, e fui para a arquitetura.
Aos 13 anos, criou o primeiro projeto. Que projeto era esse?
Uma moradia, em Vila Chã. Gostava de ir para o escritório fazer o desenho e, por isso, começou cedo o meu gosto por criar. Além disso, tinha tios que eram ligados às artes, às pinturas, e que, de certa forma, me incentivaram e ajudaram, inclusive, na altura da faculdade. Eu era muito preguiçoso, sempre fui um baldas e nunca gostei de estudar (risos). Só tinha mesmo o objetivo de ter o curso para poder exercer, porque a vocação eu já a tinha. Se não fosse necessário, acho que não o tinha concluído. Sinceramente, não consigo retirar nada de um curso de arquitetura, e lamento o que digo, mas é uma realidade. Acho que o que se ensina não é aquilo que é a vida real, e é pena.
Fazer arquitetura tira-o da sua zona de conforto ou é algo pelo qual vive intensamente?
Vivo intensamente todas as horas da arquitetura. Acordo durante a noite e penso nos meus trabalhos. O meu ginásio é uma passadeira, sempre com o ecrã à frente, onde vejo programas sobre casas, luxo, tudo o que é excêntrico... Apanho sempre qualquer coisa e adoro ver trabalhos de arquitetura de colegas. Como estou a fazer casas tão diferentes, de culturas tão diferentes, tenho necessidade de devorar todos esses estilos. Absorvo tudo do cliente e vou à procura de o satisfazer.
Qual é o traço do VVARQ?
Neste momento, nem me consigo definir num estilo. Por exemplo, estou a fazer algumas casas de betão à vista que nunca pensei fazer, porque não gostava, e estou a gostar da mistura da madeira com o betão. Outras vezes, tento contrariar com mármores. Num dos meus projetos em Cascais, na Quinta da Marinha, estou a trabalhar com o travertino cinzento, mas regoado, com ácidos, para ir buscar a textura e a cor do betão, e estou também a trabalhar com o pau rosa.
"Acho que quem me procura sabe como é que eu trabalho”
Quais são os principais desafios que o arquiteto encontra durante o tempo em que está a idealizar o projeto e, depois, no acompanhamento desse mesmo projeto, mas já no terreno?
Temos vários desafios. Só começo a criar um projeto quando já o tenho na cabeça. Em primeiro lugar, crio algo tridimensional, depois vou para o computador e vou pensando, vou vivendo naquilo, e só quando sinto que aquela casa poderia ser a minha casa e que, por aquilo que eu absorvi dos clientes, poderia ser a casa deles também, é que eu o apresento. Às vezes, é engraçado como, com projetos tão simples, casas tão pequenas, eu estou imenso tempo até sentir o clique e, por outro lado, de repente, com casas enormes, sento-me e... [o que eu vou dizer não devia dizer (risos)] numa tarde faço o projeto. Na realidade, não o fiz numa tarde, se calhar, andei a pensá-lo desde o dia em que tive a primeira reunião com o cliente, e aquela casa passou à frente das outras todas, porque, naquele dia, houve um clique. Então, a vontade é sair do resto e entrar naquele momento. E é giro, porque, por vezes, as pessoas dizem: "Ainda agora recebeste o convite para este projeto e já está pronto...!”. É a arte de quem cria. Acho que quem me procura sabe como é que eu trabalho. E eu não gosto de abandonar os meus projetos, gosto de os levar até ao fim. Só vivo com as obras, não consigo ficar sem lá ir todos os dias. Os meus amigos são os encarregados, os engenheiros e todo o pessoal que trabalha na obra. Isso é a minha vida. É o que me apaixona mais. Ao fim da tarde, vou ao ginásio, ‘desligo a ficha’ e, depois de jantar, volto a ligar, pela noite dentro.
Fazer arquitetura obriga-o a viajar muito, conhecer outros lugares, outras culturas, outras realidades. O que é que absorve desses momentos?
Quando viajo e saio, seja a trabalho ou a lazer, só gosto de ir para sítios giros, porque para eu sair do meu ritmo, do meu lugar, tenho de ir para onde possa absorver coisas novas, que me vão acrescentar algo. Tento ir para sítios onde possa visitar espaços e onde possa absorver ideias que acompanham o nível em que eu estou neste momento, bem como o estilo e o tipo de clientes que eu tenho. Essas são as minhas viagens, por isso, as recordações só podem ser boas. Tento viajar para sítios que posso recomendar também aos clientes. Quando quero transmitir uma ideia ao cliente, principalmente quando esse cliente tem um determinado estilo, conceito, e para eu facilmente o encaixar na minha ideia, mando-o visitar um hotel, um espaço, que tenha tudo que ver com ele. O cliente vai, absorve e, muitas das vezes, quer quase que copiemos o hotel para o seu conceito de casa (risos). Depois trabalhamos a ideia, mas procuramos criar algo que sabemos que o cliente vai gostar. Tem-me acontecido várias vezes. Isso obriga-me a viajar.
Alguma vez imaginou ver o salto que a sua vida deu, no que toca à arquitetura?
Sei que muitos dos convites têm vindo pelo facto de eu estar, neste momento, a trabalhar com a figura Cristiano Ronaldo. Estou a fazer a casa dele, mas não gosto desse rótulo. Tudo o que tenho alcançado não tem apenas que ver com o trabalho que tenho feito com ele, ao longo destes quatro anos. Já fiz algumas coisas com ele, é certo, desde o apartamento de Lisboa, do Castilho, a famosa marquise; à casa de Cascais e à de Turim. Mas, antes de haver Cristiano, já havia o Vítor e o Vítor sempre foi assim. Já fazia casas incríveis e já tinha projetos a desenvolver em obra. Agradeço-lhe tudo o que tem surgido e as facilidades, porque, como sabemos, é a figura que é, mas, para mim, isso até não é o principal. Apreendi a controlar o ego e isso é algo que lhe agradeço muito, porque trabalhar o ego talvez seja a coisa mais difícil na vida e ele é o maior exemplo de quem o consegue fazer. Eu fui obrigado a controlar o meu, desliguei dessa explosão do nome, e, por vezes, até me esqueço de que estou a trabalhar para o Cristiano Ronaldo.
Sonhamos com casas deslumbrantes, grandes, boas áreas, jardim, design. Aos seus olhos que importância tem hoje a casa na vida das pessoas?
90% das minhas casas tem um programa. Costumo dizer que é o programa do sonho, para as famílias que atingem o sonho e o objetivo da vida delas, de chegarem àquele ponto, de construírem uma casa com tudo, que lhes proporciona qualidade de vida. Dá-me muito prazer fazer esses estilos de casas. Se formos a falar em termos de áreas, acho que a casa mais confortável é uma casa com 300 m2 no máximo. Aliás, nem consigo perceber como é que as pessoas conseguem viver em casas tão grandes. Mas, quando as casas têm muita luz, muita vivência, e são muito transparentes com a natureza, é incrível. Tenho uma casa, foi a minha primeira grande casa, que está em Penha Longa e é um projeto incrível. Aquilo é uma transparência, estás no meio da natureza, a casa tem vidro de um lado, do outro, rocha de um lado, jardim do outro, até nos esquecemos de que estamos dentro de uma casa com dois mil e tal metros quadrados.
"Sei que muitos dos convites têm vindo pelo facto de eu estar, neste momento, a trabalhar com a figura Cristiano Ronaldo”