Tinha acabado o curso de Gestão Hoteleira e, num feliz acaso, o desporto automóvel embate na vida do Tiago. Como é que tudo aconteceu?
O desporto motorizado, em geral, foi sempre uma paixão, mas tornou-se uma realidade na altura em que vivi na França. Lembro-me de que o meu pai e um grupo de amigos se tinham começado a dedicar às corridas e eu acompanhava-os em alguns eventos. Até surgir um convite para me juntar a eles numa prova. Enquanto me preparava para essa oportunidade – que não era mais do que uma brincadeira na altura –, fiz um curso de pilotagem com um ex-piloto francês e, de facto, as coisas correram muito bem, tendo em conta a minha inexperiência. Aliás, correram tão bem que o meu pai foi pressionado a deixar-me correr. A partir daí, a história muda um pouco e começaram a surgir outras oportunidades. Dessa fase até à Fórmula 1, sete anos se passaram... Não terá sido por acaso, mas foi um conjunto de acasos felizes e de oportunidades bem aproveitadas que me permitiram chegar até aqui. Estarei sempre muito agradecido a quem comigo deu os primeiros passos.
Foi o primeiro e único piloto português com lugar no pódio da Fórmula 1. Isso ainda acarreta uma grande responsabilidade?
Não sei se diria responsabilidade, mas é, sem dúvida, uma grande honra e um motivo de orgulho. Foi uma longa caminhada até à Fórmula 1 e houve a dificuldade acrescida de ter sido feita em pouco tempo. É um meio muito difícil. Chegar à F1 exige talento e capacidade de agarrar oportunidades no momento certo. Apesar do orgulho que sinto com as conquistas na Fórmula 1, também me entristece o facto de Portugal não ter tido um outro piloto na grelha a suceder-me. Não foi por falta de talento, e isso está mais do que comprovado pelos sucessos que pilotos como o António Félix da Costa têm conquistado, mas é um facto que o país não tem sido capaz de apoiar os grandes talentos que tem.
A história dos pilotos portugueses na Fórmula 1 não é muito feliz. Onde estão as falhas?
A F1 é, sem dúvida, um campeonato muitíssimo restrito. Costumo dizer que há mais astronautas do que pilotos a correr na Fórmula 1. Mais do que apontar falhas, há que reconhecer o trabalho feito por aqueles que lá chegaram. Aliás, basta olhar para as nacionalidades representadas na grelha da modalidade para compreender que, para um país da nossa dimensão e com um determinado historial na modalidade, ter tido a possibilidade de levar a bandeira ao topo do desporto automóvel foi um pequeno feito.
Sobre os percursos propriamente ditos na Fórmula 1, é preciso estar numa boa equipa, com um bom carro, e isso não depende só do piloto. Por ser um meio tão restrito, que move tantas pessoas e dinheiro, a política interna é também muito intensa. O facto de sermos um país pequeno e com meios limitados não nos ajuda a competir com países de maior tradição na modalidade, ou contra aqueles que podem aportar muitos meios na promoção de pilotos. Não quero, com isto, ser fatalista, mas é necessária uma grande capacidade política e uma estratégia clara para tentar infletir esta tendência e levar outro piloto português ao topo da modalidade.
Fazem-se amizades nesta modalidade?
Claro, como em todas as outras modalidades. É um meio muito competitivo, é certo, mas vivemos tanta coisa juntos (pilotos e equipas), que é natural que façamos amizades.
"Depois de ter deixado a Fórmula 1, ainda pensei que fosse possível regressar”