Aprendeu a fazer croché aos 5 anos, com a sua avó, na altura em que passava os três meses de verão na ilha de São Miguel. Por essa altura, a identidade criativa já começava a dar os primeiros sinais?
Ainda não. Aos 5 anos, as minhas diversões baseavam-se em fazer mesas, cadeiras e prendas de Natal. Quando ia passar as férias de verão à ilha, lembro-me de que o meu entretenimento noturno era aprender a fazer croché com a minha avó. Já a malha, aprendi com a minha madrinha, que morava em frente. Ainda assim, creio que o interesse foi despertado pela minha bisavó. Durante muitos anos, observei-a a fazer croché, toalhas e enxovais, e mesmo na altura em que ficou cega decidiu continuar.
O aparecimento da minha identidade criativa surgiu muito depois. Só na adolescência é que comecei a fazer roupa, em croché e em malha, para mim. Foi aí que percebi que queria vestir de maneira diferente; aliás, lembro-me de inventar roupa e de passar horas na costureira por não querer a roupa tal e qual como me era apresentada. Mas a identidade que tenho agora, na minha marca, só a descobri na universidade e, mesmo nessa altura, não estava apurada.
Mais tarde, Susana aventura-se por terras londrinas, durante mais de dez anos. Lá, licenciou-se em Design de Moda, especializando-se em malha. O plano nunca foi estudar em Portugal?
Na verdade, o plano era ser bióloga marinha ou psicóloga. Depois, acabei por perceber que não era feliz na área de Ciências, apesar das boas notas, e optei por mudar para Artes, de forma a expressar a minha ideia artística, mesmo não sabendo para que ramo me inclinaria. Quando percebi que o que mais gostava era fazer e alterar roupa em malha, candidatei-me à Faculdade de Lisboa. Acabei por não entrar. Na altura, em 2003, o curso que desejava estava há pouco tempo em vigor nas universidades do país e, por isso, achei que deveria procurar outras alternativas no exterior. Até que surgiu a universidade Central Saint Martins College of Art and Design. Gostei da opção e decidi fazer, primeiro, intercâmbio em Londres, e, logo de seguida, candidatar-me ao curso na faculdade. Até ficar colocada foi um instante e acabei por prolongar a minha estadia em Londres por dez anos. Após concluir a licenciatura, quis ir para o London College of Fashion realizar o mestrado, visto que sempre me fascinou a ponte entre o artesanato e a tecnologia. Devo dizer que a cultura londrina me abriu horizontes e que o curso teve tanto de intensivo como de competitivo, fatores que, de facto, me ajudaram na descoberta da minha identidade.
Antes de se lançar em nome próprio, trabalhou para designers de renome como a Fátima Lopes. O que ficou dessas aprendizagens?
Trabalhei para a Fátima Lopes, mas também para a Alexandra Moura. Estagiei, inclusive, em Londres e na Austrália. Um dos meus maiores ensinamentos foi consolidado com a Alexandra Moura, quando percebi a luta que tinha pela frente com a questão da marca de autor. Também adquiri experiência em termos de organização e de tentar fazer muito com pouco... Foi sempre uma aprendizagem, desde a vertente económica à criativa.
"Portugal é pequeno e acabamos por sofrer pelo seu tamanho”