Hoje é um designer muito conhecido, mas a sua carreira não começou exatamente nesta área...
Não. É verdade e acho que sou um bom exemplo de que é possível mudarmos de carreira. Muitas vezes, quando somos miúdos e não sabemos o queremos fazer, somos influenciados pela família. Comigo acabou por acontecer efetivamente essa influência. O que me levou a fazer Direito. Fiz o curso na íntegra e ainda trabalhei um ano como assessor jurídico numa seguradora internacional, mas achei que não era aquilo. Acredito que a vida e o destino acabam por nos colocar nos sítios certos, nas horas certas, nos caminhos que devemos seguir. Portanto, foi aí que tudo começou.
Como e quando se dá essa reviravolta e começa a dedicar-se exclusivamente ao design?
O ponto zero, em primeiro lugar, foi ter pessoas da família que investiram em imobiliário. Estamos a falar do ano 2000. Comecei a dar umas dicas, paletas de cores, azulejos, revestimentos... Aí, ainda não me intitulava como designer, mas sim como decorador, porque entretanto fiz um curso de curta duração na Escola Superior de Artes Decorativas. Em 2004, na capa de uma revista muito conhecida na altura, a Máxima Interiores, saiu uma casa feita por mim, que me deu alguma visibilidade. A partir daí a coisa foi fluindo. Até que, em 2008, decido ir estudar para Milão. Fui dos poucos alunos, nem sei se não fui o primeiro, a entrar para um master em Design de Interiores sem ter uma licenciatura em Arquitetura ou em Design. Fui aceite graças ao portefólio. Entre 2009 e 2010, dei um pulo e, a partir daí, achei que efetivamente era designer de interiores.
A questão da sustentabilidade faz parte da sua forma de trabalhar desde o início ou começou gradualmente a ganhar importância no seu trabalho?
Acho que teve sempre, porque como fui sempre uma pessoa muito criativa, imaginava utilidade para as coisas que encontrava. Às vezes, na rua a brincar com os miúdos, olhava para essas coisas e pensava "ai isto ficava giro se fosse... qualquer coisa”. Esse foi o bichinho que eu, de alguma forma, sempre senti presente e que, mais tarde, acabou por dar na Primeira Casa da Rua, que é um blogue que surgiu em 2013, em que o reciclar, reutilizar e recuperar eram, e são, o mote. Portanto, desde muito cedo fui sensível para isso e para o desperdício, que é uma coisa que me faz muita confusão.