
Blue Ming Collection
Qual é a mensagem que pretende transmitir com o conceito da marca?
Não quero fazer grandeza, quero fazer coisas humildes. Mas vou tentar fazer coisas grandiosas. Cabe ao mundo ter uma opinião sobre isso. Como designer de produtos e interiores, digamos, acho que somos responsáveis por alimentar e gerir, da melhor forma possível, a relação entre as pessoas e o seu ambiente artificial. É essa a relação que devemos cultivar. Se não vivermos numa floresta, então vivemos num ambiente artificial durante toda a nossa vida. Penso que a relação entre nós e o ambiente artificial está, na minha opinião, lixada. E, em grande medida, isso deve-se ao design, porque criámos uma filosofia que é ridícula. Uma tradição modernista criou um contexto filosófico para o que nos rodeia, que é muito limitado, e temos de reparar isso, temos de encontrar outra forma de lidar com o que nos rodeia. Os designers devem abrir esse caminho, porque também fomos nós que abrimos o caminho do afastamento de uma relação saudável entre nós e o nosso ambiente artificial. Com o modernismo, dissemos a nós mesmos que o passado é irrelevante para o futuro. Dissemos que, se desenharmos algo, não olhamos para trás, olhamos apenas para a frente. Mas, se o passado não é relevante para o futuro, o que é que isso significa para as coisas que criamos hoje? Que amanhã elas serão irrelevantes. Estamos a deitar fora as nossas ideias todos os dias, e é isso que tem acontecido no mundo desde há muito tempo. A ligação entre nós e o que nos rodeia é, no fundo, temporária. Isso é algo contra o qual tenho lutado toda a minha vida. Começar no passado ao projetar o futuro. Tentar ter conversas com designers de todo o mundo para abraçar as antiguidades de ontem e criar, hoje, as antiguidades de amanhã. O objetivo do designer é dar o máximo de valor possível, durante o maior período de tempo, com o mínimo de energia, materiais e custos. Este é o fundamento do design. Não é isso que temos feito. Não é o que fazemos.
Como é que inclui a sustentabilidade nas peças que fazem?
Quando terminei a faculdade, em 1988, na Holanda, havia um grupo de criadores que se reunia sob o nome "eternamente teu” e estudava a longevidade dos produtos. Como é que os produtos podiam envelhecer com graciosidade. Era, antes de mais nada, um grupo tecnocrático de designers na universidade técnica de Delft. Trabalhámos muito com os materiais, com o consumo de energia, com a possibilidade de as coisas poderem ser reparadas ou desmontadas. Percebi todas estas coisas e aprendi muito com isso. Utilizo estes conhecimentos, mas também sabia que esta não é a minha contribuição para a indústria do design. Esta foi a parte material e técnica desta conversa, mas a minha conversa é sobre a relação. A poesia nisso, se quiser. E, claro, também posso usar a tecnologia que estavam a desenvolver, porque, no final, ocultamente, também sou um engenheiro. Mas não é isso que estou a dizer ao mundo; ao mundo, estou a dizer que sou um mágico, um poeta. Estou a fazer estas coisas malucas, não sei, essas coisas surgem do nada. Porque essa é a minha conversa. Com a minha poesia e magia, construo um modelo cultural e uma filosofia que é verdadeiramente mais sustentável. Estou a tentar mudar a relação entre nós e o mundo artificial, defendendo-o mais duradouro, mais equilibrado. Para satisfazer as exigências da sustentabilidade, com base numa perspetiva relacional, a nossa relação com o mundo. Se tivermos uma casa cheia de copos de plástico e móveis e cerâmicas descartáveis, a nossa vida torna-se uma vida descartável. Se colocarmos as nossas fotografias de família no aparador, o nosso mundo torna-se diferente.
Como é que consegue inventar e criar peças únicas e distintas, dia após dia?
A pergunta que faço a mim próprio, todos os dias, a todas as horas, a todos os minutos, é a questão principal da minha vida. Se for essa questão for suficientemente grande, pode encontrar muitas ligações, certo? Se for uma pergunta mais pequena, como por exemplo: como é que posso fazer uma cadeira bonita? Então, há muitas coisas da sua parte com as quais não consegue lidar, certo? O que é que se faz? Mas se a questão for: como posso mudar a relação que nós, enquanto cultura, temos com o nosso ambiente artificial? Então, há um número infinito de coisas que podemos fazer, certo? É infinito o que se pode fazer. Procure sempre o maior problema com que consegue lidar.
Sente que, com a sua visão e com a Moooi, está a fazer a diferença?
Penso que a Moooi está a fazer a diferença a muitos níveis. Quero dizer, se sorrirmos de manhã, quando saímos à rua e encontramos alguém, estamos a fazer a diferença, certo? Portanto, todos nós fazemos a diferença, todos os dias, todas as horas. Se sorri, eu fico feliz. Então, todos nós o fazemos, a toda a hora, e a Moooi também o faz. Poderá fazer mais? Sim. Podia fazer muito menos? Sim. Qual é o resultado da Moooi? Muitas pessoas apreciam as obras. Deixem-me pôr as coisas de outra forma, de uma forma mais interessante, penso eu. Eu sou designer. Por vezes, encontramos pessoas que não conhecem bem o design. E dizem: "Sim, sim, eu gosto, é bonito, mas é tudo tão caro”. E eu digo: "Não estão a perceber. Desculpe, não é caro, é de borla.” E elas ficam, do género: "Estamos a falar de design? O design é de graça?” Por exemplo, agora vai publicar este texto, certo? E estamos a ter esta conversa. Eu tenho os meus pensamentos que construí meticulosamente ao longo dos últimos 50 anos. Vai gastar tempo a escrever este texto. Vai colocá-lo online ou, tanto quanto eu sei, vai aparecer na vossa revista Vai haver fotografias de trabalhos que eu fiz. Tiraremos uma fotografia bonita e talvez contemos uma história bonita. As pessoas podem lê-la. Podem gostar da história. Podem gostar do sofá que vão ver. Até podem odiar esse sofá. Até podem ir a Milão e ver esse sofá, tirar uma selfie em cima dele e publicar no seu site que o detestam. Podem fazer o que quiserem; podem usá-lo para o seu cérebro; podem desligar; podem contar aos amigos; podem até dizer que ‘sou fantástico porque vi aquele sofá’. Podem fazer tudo o que quiserem com esse sofá que lhes damos de graça. Está a contar uma história sobre isso. Nós fazemos tudo e eles podem ter tudo de graça. A única coisa que não é de graça no design é a propriedade, que é a parte mais insignificante do design. Quantas pessoas é que vão comprar esse sofá? Talvez 50 por ano. Quantas pessoas vão ver esse sofá e ter uma opinião sobre ele? Talvez um milhão. Portanto, para um milhão de pessoas é de graça e, depois, 50 trocam algum dinheiro pela propriedade. Como é que o design não é de graça? A minha peça Knotted Chair foi publicada, penso que, mais de mil milhões de vezes, impressa mais de mil milhões de vezes. Fizemos, acho, 1000 no total. É isso. Muitas pessoas viram-na, inspiraram-se nela. Se comprarmos uma revista sobre design, não é porque queremos um sofá, porque queremos comprar um sofá. Não. Estamos apenas entusiasmados. Pensamos: "Ó meu Deus, isto é tão fixe! Nunca vi esta cor. Isto é interessante. Se calhar, devia investigar isto e tal”. Dá-nos ideias. Faz-nos compreender quem somos. Em quem nos vamos tornar no futuro. Porque começamos a projetar-nos dentro do mundo sobre o qual estamos a ler. E talvez tenhamos uma ideia: "Eu poderia ter uma vida melhor, se fizesse isto ou se não fizesse aquilo”. Então, tudo isso é de graça. Mas estão a queixar-se que é caro. Não, é de borla. E a Moooi está a fazer muito disso. Damos muito de graça e temos vendas suficientes para podermos continuar a fazer isso, o que é muito bonito e espero que o possamos fazer durante muito tempo, para podermos continuar a comunicar o nosso amor pelo que nos rodeia, continuamente.
Tem muita experiência de vida e uma filosofia de vida maravilhosa. Criou muito, mas é claro que ainda tem muito para dar ao mundo, por isso quais são os seus objetivos? O que é que ainda quer mostrar ao mundo e como é que quer ser lembrado?
Duas perguntas: "o que estou a planear fazer daqui para a frente”; e a outra: "se eu morrer, o que resta desta energia ao longo do tempo neste lugar”. Respondo primeiro à segunda. Acho que tentei ser honesto e falar e comunicar sobre uma filosofia que tenta tornar-nos a todos mais felizes, num mundo que está cheio de ambientes artificiais, e fazê-lo de forma a podermos criar mais valor a partir de menos "custos” e por mais tempo. E tentei fazê-lo de todas as formas. Quer no conceito de imperfeição, ou no conceito das novas antiguidades, ou em todo o tipo de direções que encontrei, ao criar obras e diálogos e também na ligação que estabeleci com as pessoas. As pessoas no meu estúdio, os meus clientes, os meus amigos. E este é, penso eu, o meu lema de vida: "Estou aqui para criar um ambiente de amor, viver com paixão e realizar os meus sonhos mais empolgantes”. É um bocado complicado. Criei este lema quando tinha talvez 30 anos ou perto disso. Nunca mudei nada nesse lema e continua a ser o meu lema em todas as situações em que me encontro ativo. E, depois, se falamos em "criar um ambiente de amor”, que não se refira só aos objetos e espaços, mas também ao meu estúdio, à minha família, aos meus amigos, e a todos os outros grupos de que eu faço parte. É, realmente, uma filosofia de vida. É este o lema pelo qual vivo. E espero ter sido capaz de o fazer de forma que seja notável, reconhecível e inesquecível.